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Aniversário de minha avó

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Hoje minha avó materna completa 88 anos, e eu a fui visitar em sua casa arborizada, paraíso de minha infância. Robusta e lúcida até há pouco tempo, hoje, porém, já não é mais capaz de me iluminar com suas histórias e lições. Visitá-la, contudo, ainda é fascinante: ficar ali ao seu lado em silêncio, aos pés da laranjeira em flor, uma brisa fresca soprando... Ouvi hoje sob as flores da laranjeira o discurso da ausência. Minha vó, perdida em si mesma e inarticulada, Sussurrou a brisa fresca que acariciava suavemente as folhas Do nosso quintal de mil anos. Suas rugas, ah as suas rugas, tartamudearam as mesmas forças Incertas de todas aquelas árvores e seus galhos retorcidos. Seus olhos, não os encontrei mais, Precipitados que estão definitivamente na seiva de sua alma. Sua alma me tocou como sempre o fez, Desta vez no puro silêncio do seu elemento, E agora que a tarde cai fria e me sinto só, Me sinto só porque sei que já não está lá Naquele corpo-tronco milenar A minha vó.

Ataraxia: impossível?

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"Eu elogio a vida, não a que levo, mas aquela que sei dever ser vivida." Sêneca A graça de sermos, digamos, deuses menores são justamente estas paixões intermináveis, que embaralham tudo, apesar de toda esta organizadinha arquitetura que pretendemos alardear de nós mesmos e do nosso destino... (Paixão: 9. Disposição contrária ou favorável a alguma coisa, e que ultrapassa os limites da lógica; parcialidade marcante; fanatismo, cegueira...)

Will Durant

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Essencialmente, só existem três sistemas de ética, três concepções do caráter ideal e da vida moral. Um é o de Buda e Jesus, que salienta as virtudes femininas, considera todos os homens igualmente preciosos, resiste ao mal apenas retribuindo com o bem, identifica a virtude com o amor e, na política, inclina-se para a democracia ilimitada. Outro é a ética de Maquiavel e Nietzsche, que salienta as virtudes masculinas, aceita a desigualdade dos homens, aprecia os riscos do combate, da conquista e do domínio, identifica a virtude com o poder e exalta uma aristocracia hereditária. Um terceiro, a ética de Sócrates, Platão e Aristóteles, nega a aplicabilidade universal, quer das virtudes femininas, quer das virtudes masculinas; acha que só a mente informada e madura pode julgar, segundo circunstâncias diversas, quando deve imperar o amor e quando deve imperar o poder; identifica a virtude, portanto, com a inteligência; e defende uma mistura variável de aristocracia e democracia do governo.

Parêntese feliz (e em juízo perfeito)

Estou entrando numa outra dimensão e...é incrível! Saúde e beleza, sabedoria e fortuna, iluminação.

ATANOR

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O desejo de falar a língua de muitos povos, a vontade de perscrutar filosoficamente todas as coisas do Ocidente ao Oriente, o impulso irresistível ao misticismo, à sabedoria oculta, essa tendência, enfim, para o geral e, inversamente, a execração do particular respondem ao ideal alquímico da busca do ouro na matéria grosseira, da alma, de Deus dentro do chumbo de todas as coisas visíveis, do encontro de nós mesmos, enfim, aos olharmos atentamente para o que nos é exterior. Nada de especial, na verdade, visto que no fundo todos temos esse impulso ao que há de universal, ao que encontre ressonância com nossa alma. Inusitado é, talvez, apenas eu saber este meu segredo da água, concluir que não gosto de nada e verbalizar o anelo de ser um anjo. A Alquimia tem uma analogia para isso?

Outro parêntese

Ma di che debbo lamentarmi, ahi lassa, finor che del mio desire irrazionale? ch'alto mi leva, e sì nell'aria passa, ch'arriva in parte ove s'abbrucia l'ale; poi non potendo sostener, mi lassa dai ciel cader: né qui finisce il male; che le rimette, e di nuovo arde: ond'io non ho mai fine al precipizio mio.

Nihil

Parêntese inevitável para uma noite de sábado vazia: quero simplesmente ser feliz e fazer feliz o mundo ao meu redor. Acho que querer ser anjo é um modo de traduzir esse anseio, e não gostar de nada e de tudo é a minha maneira honesta de ser mais um, sem rebuço.