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Sempiterno?

  Quando sou o que realmente sou, Flutuo por entre as raízes E me observo por sobre as copas,   Acaricio suave o macio de tudo, Recebo o sussurro da seiva sem fim, E também sou raízes, e folhas, e seiva;   Quando sou o que realmente sou, Sou o alento que murmura o eterno, O inefável, o glorioso devir;   Quando sou o que realmente sou, Sei que sou o que precisa ser, Sou a Mente que pensa a si mesma, Para existir e re-existir infinitamente.

Sauntering

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          Fui um adolescente essencialmente solitário e amante das longas caminhadas.           Gastava boa parte do meu dia indo a bibliotecas distantes, onde procurava uma verdade que me iluminasse, um caminho que me trouxesse leveza e liberdade.           A vida era dura, faminta, obscura.           Nunca considerei a hipótese materialista, porque meu estar no mundo físico era tacanho demais, para ser elevado à última instância da explicação existencial.           Era preciso haver algo para além daquela lama toda, e esse algo devia estar ao alcance da mágica, não da lógica, porque, pela lógica que me era permitida então, a lama seria meu elemento até o fim.           A frase desalentadora "O mestre só aparece quando o discípulo está pronto." resume o dilema (Ninguém sai da lama, se estiver na lama) e expõe...

O MUNDO, TUDO SOMADO, É LINDO E AVANÇA...

PRECISAMOS PARAR DE PENSAR QUE ENCARNAMOS PARA CONSERTAR O MUNDO! O MUNDO É O QUE É, LINDAMENTE IMPERFEITO. NOSSA PARTICIPAÇÃO O MELHORA, NÃO O CONSERTA, PORQUE ELE NÃO ESTÁ ESCANGALHADO. ESTÁ, ISSO SIM, SEGUINDO SEU CURSO, ENTRE BELEZAS E FEIÚRAS, E  NOSSA MISSÃO É MISTURAR TUDO ISSO E FAZER O UNIVERSO AVANÇAR PARA MARAVILHAS AINDA INEFÁVEIS.

Escassez não existe?

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É preciso proclamar que somos criadores deliberados de nossos caminhos? É fundamental insistir que podemos querer na vida, querer sistematicamente, sem os falsos pudores, nem os vãos cerceamentos dos nossos arcabouços culturais, que impõem, como se universais e divinos, pseudo-realidades como a da escassez, como a do mérito da luta pelo sucesso, do trabalho incansável pela sobrevivência, da exaustão louvável pela prosperidade? Desde cedo muitos de nós aprendemos que viver é lutar. Desde cedo boa parte das pessoas aprende a querer pouco, para evitar a frustração, ou a querer muito, morrendo e matando por isso, ou ainda a não querer nada,  mergulhadas no esquecimento e inativação total da capacidade de sonhar. Quantos, à vista duma lâmpada mágica e a possibilidade de três desejos, morreriam ainda assim de fome e de sede ou se arvorariam ridiculamente em donos do Universo?  Todo indivíduo deveria ser capaz de se posicionar e assumir não um "nós", mas um "eu" sagaz e a...

O segredo

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Os pruridos existenciais, até onde me lembro, já me eram bem familiares na infância: deitar numa laje qualquer ou me estender na rua, olhar para o céu e sentir que tanto no peito quanto nas alturas haveria um grande segredo a ser descoberto...  Minha mãe contribuía para isso: dizia que eu via anjos quando era bem pequenino...  Faz muito tempo, portanto, que os velhos questionamentos existenciais e a suspeita do transcendente me atormentam, de um jeito ou de outro, e aquela sensação de estranhamento que nos destaca do cotidiano e nos faz olhar para tudo como se fôssemos de outro planeta ainda me ocorre.  Nunca deixei de me perguntar sobre o que faço aqui, não eventualmente, entre uma alegria e outra, mas de forma exaustiva, obsediante mesmo. Isso de ser gerado, depois posto no mundo para procurar um rumo e um sentido, entre todas essas caixas que chamamos casa, por essas aberturas estreitas ou largas, retas ou sinuosas que chamamos ruas; isso de assumir um papel, seguir um...

Ad lib

É noite Noite de lua Noite estrelada Pelo vão da janela Procuro Vida Na vastidão do céu Mas a vida que importa Se encontra aqui Bem ancorada No desvão do meu peito É tarde E ela nua É tarde E ela cansada Dorme alheia A esta vigília astronômica De perscrutar lá E encontrá-la aqui De mansinho Em curvas formidáveis.

Mais um pouco.

São dois os grandes desafios da vida: descobrir o próprio Dharma, segui-lo com discernimento. Penso no Dharma como num "encosto": toda vez que me perco existencialmente, dou uma olhadinha pra trás e recorro ao Daimon, pra tentar entender o sentido das coisas e retomar o rumo certo. A vida é tão fluida e complexa! Ela pode ser cheia de significados ou vazia. Pro indivíduo, porém, dá na mesma: nascimento, envelhecimento, morte. Vivo neste afã de me convencer de que tudo vale a pena, de identificar meu Dharma e seguir, seguir inexoravelmente até a beira da falésia, como todos, simples ou complexos, pobres de espírito, ou esclarecidinhos... No final das contas sou apenas mais um.