FALEMOS TODAS AS LÍNGUAS

Reunindo os cacos, noto que tenho à mão quatro, digamos, peças do meu quebra-cabeça: aquele plano meio megalomaníaco, a lembrança duma experiência mística na qual me foi dito que o segredo de minha vida está na água, esta recente descoberta ou assunção de que não tenho um gosto particular por nada deste mundo e a conclusão de que gostaria mesmo é de ser um anjo. Numa próxima ocasião, veremos se terei conseguido reunir essas peças eficazmente.

Agora me vejo em COTA ZERO Stop. A vida parou ou foi o automóvel?

É bem verdade que mesmo antes dos trinta, lá pelos vinte, ainda sob o efeito de todo aquele élan adolescente, estabeleci como meta aprender algumas línguas (latim, grego, italiano, francês, inglês e russo), dominar toda a filosofia ocidental e a oriental, ser um místico rosacruz sábio e erudito e... Bem, naquele ponto, é de se confessar, não sabia muito o que faria com essas ferramentas; nem mesmo sabia tratar-se de ferramentas. Ao invés, me pareciam um fim em si. Talvez por isso progredi muito pouco...plano tão presunçoso e sem alma.

‘Where the tree of knowledge stands, you will always find paradise’ — that’s what the oldest and the youngest serpents will tell you. — Friedrich Nietzsche, Beyond Good and Evil Depois de quatro anos matutando (em uma ou outra ocasião), dei-me conta de que não gosto de nada loucamente. Ao invés, amo um pouquinho todas as coisas e as aprenderia sem exceção, se pudesse. Contudo, ars longa, vita brevis .