Gelsomino

Minhas pernas cansadas nada dirão de Thoreau, nem minhas futuras varizes lamentarão os Peripatéticos, quando chegar o Grande Momento.
Ao invés, minhas narinas hão de dormir seu último sono, felizes com as incansáveis sendas percorridas e com as rotas imensas de olores tantos.
As inúmeras fragrâncias em mim mesmo impressas em cada poro hão de rever em seu último alento todos os sorrisos de manhãs perfumadas, toda a melancolia de tardes floridas e todas as dores de noites sem buquê.
E, se for preciso falar sobre a beleza recorrente de toda uma vida, direi que, sob uma forma ou outra, ao longo de todos os caminhos, de todas as manhãs, de todas as tardes e de todas as noites, encontrei em sua moldura verde o branco perfume do jasmim.
Muito provável que ponderem o nenhum sentido disso tudo; então com certeza lembrarei, história de minha mãe, meu dom especial, quando criança, de ver anjos, e levarei uns e outros a compreender a troca mais ou menos madura e positiva que escolhi fazer: os anjos pelo jasmim, os olhos pelo nariz, o céu pela terra, o etéreo pelo deliciosamente fruitivo (nem por isso menos divino) mundo de todos nós, corpos de luz, corpos de carne.
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