Velharia


É comum que nas preguiçosas limpezas de gavetas eu ache algum texto meu antigo: só lamento e jogo fora.
Encontrei, no entanto, um de oito anos atrás que me agradou e se livrou da morte infame:



FOTOGRAFIA


olfato

A tua foto, querida, me ficou:

Um passeio no campo entre tantas flores,

Um positivo de perfumes impossíveis!


tato

O teu retrato, eu o retenho entre os dedos

Como à textura do pêssego: seda!

Mulher firme e sinuosa.


audição

A tua imagem, mulher, vem-me à cabeça

Como os gemidos cálidos da adolescência

E os palavrões vazios da infância.


paladar

Quero engolir-te, sais de prata,

Mastigar-te como iguaria achada

No baú da vovó, cheio de saudade.

.......................



Mas te ver já não quero:

Tua realidade acende em mim

O gosto sujo da banalidade.

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