CONSELHO AOS PÓSTEROS
Olha aí, você que um dia vai ler isto aqui, meu filho talvez, saiba que eu tenho sim uma vida de sol e chuva, que percorro, por exemplo, nos dias de hoje, as ruas tristes duma cidade triste (Jandira) carregando o peso de meus sonhos que se acumulam (mas não se perdem).
Saiba que muitas vezes me sinto só e desanimado, mas que algumas vezes enxergo o claro do sol e o azul do céu e não perco a esperança de ser feliz (e consigo sê-lo amiúde).
Olha aí, filho ou interessado qualquer que sobreviver a mim e ler isto já sob o peso de uma vaga saudade, saiba que a vida para mim não foi excepcionalmente triste, nem admiravelmente mágica, exceto nos momentos em que pensei amar para além desta vida, nos momentos em que me senti capaz de superar qualquer dificuldade em nome desse amar, nos momentos em que, como Dante e todos os grandes, eu percebi que só o amor dá sentido a essas tristes ruas de todas as tristes cidades, sob a chuva ou sob o sol...o amor incondicional, o amor divinamente intransitivo, por assim dizer.
Ame. Este é o meu conselho. Ainda que o século seja outro, a sensibilidade tenha se perdido, e amar tenha ficado cafona.
Ame com atenção, dedicação e cortesia. Ame com afinco, com vigor, com o corpo e com a alma, sem pejo, sem pudor, sem meias medidas, sem jogo. Ame.
Assim como a música é a intermediária entre nosso corpo e nossa alma, o amor é o sinal menos impalpável de nossa origem divina.
Atenção, porém, a uma notícia infeliz: não poucas vezes fui desprezado por essa atenção, dedicação e cortesia e fui escarnecido pela falta de pejo, de pudor, de meias medidas, de estratégia de jogo...amar, verbo intransitivo...

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