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Lituânia

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Pois é. Para quem não sabe, vai registrado que o pai de minha mãe(meu avô, explico) era Jonas Solovjovas, lituano de Kaunas. Lamentavelmente o sobrenome ficou para a maior parte da família em sua forma russa: Solovioff, conforme indicação feita pelo tradutor no passaporte de meu bisavô Mikolas Solovjovas, que passou, como se vê do recorte aí em cima, a Nikolas Solovioff... E para quem possa vir a ter uns ataques de lituaniedade, recomendo este muito útil curso de língua lituana: http://www.slic.org.au/Language/LLL_index.swf
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Esta noite sonhei que tinha apenas dois dias de vida. Era uma angústia fortíssima e uma tristeza sufocante, não sei se pela vida ou pela morte. De dia topei com este poema de Drummond: Mas era apenas isso, era isso, mais nada? Era só a batida numa porta fechada? E ninguém respondendo, nenhum gesto de abrir: era, sem fechadura, uma chave perdida? Isso, ou menos que isso, uma noção de porta, o projeto de abri-la sem haver outro lado? O projeto de escuta à procura de som? O responder que oferta o dom de uma recusa? Como viver o mundo em termos de esperança? E que palavra é essa que a vida não alcança?

Consonus

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Luz e fogo da Atlântida, água que me sepultou, cuspiu e inspirou; asas que pungem desordenadas a cada passo...sei de onde vim, quem sou, o que devo fazer e aonde devo chegar, mas quais as efetivas invocações que me manterão? Onde os mestres que me guiam? Olho pela janela e não vejo o mar. O vento chega dum horizonte mesquinho. Há serpentes retendo meus passos. Meu coração está pesado. Foi assim no dia em que mergulhei incandescente, para morrer com meu mundo? Cro-maat.
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DANCING WITH MY LONELINESS AGAIN

Velharia

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É comum que nas preguiçosas limpezas de gavetas eu ache algum texto meu antigo: só lamento e jogo fora. Encontrei, no entanto, um de oito anos atrás que me agradou e se livrou da morte infame: FOTOGRAFIA olfato A tua foto, querida, me ficou: Um passeio no campo entre tantas flores, Um positivo de perfumes impossíveis! tato O teu retrato, eu o retenho entre os dedos Como à textura do pêssego: seda! Mulher firme e sinuosa. audição A tua imagem, mulher, vem-me à cabeça Como os gemidos cálidos da adolescência E os palavrões vazios da infância. paladar Quero engolir-te, sais de prata, Mastigar-te como iguaria achada No baú da vovó, cheio de saudade. ....................... Mas te ver já não quero: Tua realidade acende em mim O gosto sujo da banalidade .
Estou cansado, estou cansado desta ilusão de anjo sem asas. Estou farto deste signo da privação que me persegue, são francisco involuntário. No meu pacote de abnegação, não encontrei o desapego necessário; e, para o desapego necessário em grande escala, não me foi facilitada a posse de amenidades mínimas. Estou cheio desta luta inglória e tão diluída nestas tolices pequeno-burguesas, tão diluída, que num desespero suicídico tendo mais ao desprezo de mim mesmo, mesquinho e preguiçoso. Domine Deus, precor pietatem tuam!

Fome

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Somente minha mãe, caríssima mulher, compreendeu minha fome, conheceu-a a fundo e amiúde a chorou dolorosamente, mas não pôde saciá-la: a natureza nos uniu com a sua dor e o meu remorso. Somente minha mãe compreenderia este desabafo, mas ela se foi e, no lugar onde se encontra, dor, remorso e desabafo são oitavas perdidas no nada.