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Velharia

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É comum que nas preguiçosas limpezas de gavetas eu ache algum texto meu antigo: só lamento e jogo fora. Encontrei, no entanto, um de oito anos atrás que me agradou e se livrou da morte infame: FOTOGRAFIA olfato A tua foto, querida, me ficou: Um passeio no campo entre tantas flores, Um positivo de perfumes impossíveis! tato O teu retrato, eu o retenho entre os dedos Como à textura do pêssego: seda! Mulher firme e sinuosa. audição A tua imagem, mulher, vem-me à cabeça Como os gemidos cálidos da adolescência E os palavrões vazios da infância. paladar Quero engolir-te, sais de prata, Mastigar-te como iguaria achada No baú da vovó, cheio de saudade. ....................... Mas te ver já não quero: Tua realidade acende em mim O gosto sujo da banalidade .
Estou cansado, estou cansado desta ilusão de anjo sem asas. Estou farto deste signo da privação que me persegue, são francisco involuntário. No meu pacote de abnegação, não encontrei o desapego necessário; e, para o desapego necessário em grande escala, não me foi facilitada a posse de amenidades mínimas. Estou cheio desta luta inglória e tão diluída nestas tolices pequeno-burguesas, tão diluída, que num desespero suicídico tendo mais ao desprezo de mim mesmo, mesquinho e preguiçoso. Domine Deus, precor pietatem tuam!

Fome

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Somente minha mãe, caríssima mulher, compreendeu minha fome, conheceu-a a fundo e amiúde a chorou dolorosamente, mas não pôde saciá-la: a natureza nos uniu com a sua dor e o meu remorso. Somente minha mãe compreenderia este desabafo, mas ela se foi e, no lugar onde se encontra, dor, remorso e desabafo são oitavas perdidas no nada.

Escola peripatética

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A Escola peripatética foi um círculo filosófico da Grécia Antiga que basicamente seguia os ensinamentos de Aristóteles, seu fundador. Fundada em c.336 a.C., quando Aristóteles abriu sua primeira escola filosófica no Liceu em Atenas, durou até o século IV. "Peripatético" (em grego, περιπατητικός), é a palavra grega para 'ambulante' ou 'itinerante'. Peripatéticos (ou 'os que passeiam') eram discípulos de Aristóteles, em razão do hábito do filósofo de ensinar ao ar livre, caminhando enquanto lia e dava preleções, por sob os portais cobertos do Liceu, conhecidos como perípatoi, ou sob as árvores que o cercavam. A escola sempre teve uma orientação empírica - em oposição à Academia platônica, muito mais especulativa. Tal característica se acentua quando Teofrasto assume sua direção. O mais famoso membro da Escola peripatética depois de Aristóteles foi Estratão de Lampsaco, que incrementou os elementos naturais da filosofia de Aristóteles e adotou uma forma d...

THOREAU

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Henry David Thoreau estudou em Harvard, e depois de sua formatura passou dois anos isolado da civilização, num barraco, às margens do lago Walden, absorto na contemplação da natureza. Retornando à civilização, tornou-se professor no liceu de Concord, onde exerceria até sua morte. Fez muitas viagens, descobrindo a beleza de florestas e paisagens naturais. Entre suas obras destaca-se Walden, or life in the woods, que é a descrição de sua experiência de dois anos solitário, sobrevivendo apenas do trabalho natural, um livro de descrições exatas e mesmo assim poéticas. Thoreau era abolicionista, amava intensamente a natureza, detestava notícias (poluíam a nossa mente, templo de reflexões, com banalidades), era contra o trabalho desvinculado do prazer (degradava o homem), panteísta, místico, solteirão convicto e contra as "boas maneiras". THIS IS A delicious evening, when the whole body is one sense, and imbibes delight through every pore. I go and come with a strange liberty in N...

Gelsomino

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Minhas pernas cansadas nada dirão de Thoreau, nem minhas futuras varizes lamentarão os Peripatéticos, quando chegar o Grande Momento. Ao invés, minhas narinas hão de dormir seu último sono, felizes com as incansáveis sendas percorridas e com as rotas imensas de olores tantos. As inúmeras fragrâncias em mim mesmo impressas em cada poro hão de rever em seu último alento todos os sorrisos de manhãs perfumadas, toda a melancolia de tardes floridas e todas as dores de noites sem buquê. E, se for preciso falar sobre a beleza recorrente de toda uma vida, direi que, sob uma forma ou outra, ao longo de todos os caminhos, de todas as manhãs, de todas as tardes e de todas as noites, encontrei em sua moldura verde o branco perfume do jasmim. Muito provável que ponderem o nenhum sentido disso tudo; então com certeza lembrarei, história de minha mãe, meu dom especial, quando criança, de ver anjos, e levarei uns e outros a compreender a troca mais ou menos madura e positiva que escolhi fazer: os anjo...